TEMOS FOME DE CONHECIMENTO TAMBÉM.

Bom dia com uma linda página do livro do Katz, 'A arte da fermentação'. E como tudo em que acreditamos acaba se interligando e se fundindo, me lembrei logo do Wu Wei ou 'não ação' na filosofia taoísta, tão confundida com passividade e inércia, quando na verdade é a própria ação evitando desastres ('Encarrega-te dos problemas antes de eles surgirem'). Um convite à ação, um belo não à passividade tão preguiçosa. Coloquei um trecho do Tao no final, apenas como complemento para reflexão: 

          "(...) Precisamos nos engajar ativamente se quisermos nos aproximar de um estilo de vida mais harmonioso, com maior capacidade de adaptação. Isso implica encontrar maneiras de nos conscientizar mais e de nos conectar melhor com outras formas de vida que nos cercam e que constituem o nosso alimento - as plantas, os animais, as bactérias e os fungos - e com os recursos naturais como a água, o combustível, as matérias-primas, as ferramentas e o transporte dos quais dependemos. Para isso, PRECISAMOS ASSUMIR AS RESPONSABILIDADES POR NOSSAS AÇÕES. É possível criar um mundo melhor, com escolhas alimentares melhores e mais sustentáveis e uma maior conscientização dos recursos naturais e da nossa comunidade, baseado em um espírito de colaboração, não de divisão. Para que uma cultura seja forte e resistente, ela deve ser um refúgio criativo no qual técnicas, informações e valores possam ser mobilizados e transmitidos. A cultura não tem como florescer em um paraíso de consumo ou em um templo à passividade. A vida cotidiana está sempre nos oferecendo oportunidades para agir de maneira participativa - agarre-as.
          Da mesma forma como as culturas microbianas só existem em comunidade, o mesmo pode ser dito das culturas humanas, de modo mais amplo. A comida é a maior 'cola' comunitária que pode existir. A comida convida as pessoas a se congregar e as famílias a se reunir; acolhe novos vizinhos, viajantes cansados e velhos amigos. E é mais fácil e prazeroso produzir alimentos em colaboração. A união facilita o trabalho e a produção muitas vezes leva à especialização e ao escambo. E, mais ainda que os alimentos em geral, os alimentos fermentados - especialmente as bebidas - têm um importante papel no desenvolvimento de uma comunidade. Além das várias festas, rituais e celebrações organizadas ao redor de produtos da fermentação (como o pão e o vinho), os alimentos fermentados estão entre os mais antigos e mais importantes, que contribuem valor e estabilidade aos produtos brutos da agricultura, constituindo um sustentáculo essencial para a economia de todas as comunidades. O cervejeiro e o padeiro são membros centrais de qualquer economia baseada em cereais; o vinho transforma uvas perecíveis em uma commodity estável e cobiçada, assim como o queijo faz com o leite.
          Resgatar a nossa comida implica resgatar a noção de comunidade, mobilizando sua interconectividade econômica de especialização e sua divisão de trabalho, mas em uma escala humana, promovendo conscientização dos recursos e o escambo na comunidade local. O transporte de mercadorias pelo mundo consome um volume enorme de recursos, além de prejudicar o meio ambiente. E, embora possa ser prazeroso saborear alimentos diferentes de vez em quando, é inapropriado e destrutivo basear nossa dieta nesses alimentos. (...)" Um convite mais que justificado a uma batalha que todos deveríamos travar.

Trecho do Tao Te King: 
"É fácil manter a estabilidade enquanto as coisas estão estáveis.
É fácil lidar com as coisas enquanto elas não mostram sinal de irem mudar.
O que é frágil é fácil de quebrar, o que é pequeno é fácil de dispersar.
Mas há que pôr as coisas em ordem antes de haver confusão.
Porque as coisas se podem transformar nos seus opostos.
Uma árvore do tamanho do abraço de um homem começa por ser pequena.
Uma torre de nove andares começa por ser um monte de terra.
Uma viagem de mil léguas começa num passo.
Encarrega-te dos problemas antes de eles surgirem.
Assim, evitarás ter depois de agir.
As dificuldades são facilmente superadas antes de começarem.(...)"


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