MOLHO DE MOSTARDA CASEIRO E MIMIMI

          Poderia ser só um molho de mostarda, mas tudo que faço tem muito valor sentimental pra mim, então não é. Quando criei a La Daher, em maio de 2015, já fazia mil e uma coisas, e tudo que faço que acho que fica gostoso eu quero vender. Só encontro uma justificativa pra isso: ou é pq tenho sangue libanês (mais provável) ou é pq eu coloco amor em tudo que faço e acho que amor tem mesmo que ser compartilhado (muito mais provável). Só pode ser por isso(s)! Nada justifica uma criatura cozinhar qualquer coisa em casa e querer colocar um embrulhinho com rótulo, um monte de mulherzices e vender. É uma loucura! Pergunte ao meu marido e à minha mãe, beira o insuportável.
          Enfim, entre muitas produções e vendas, fiz bolos, geleias, molhos de pimenta, antepastos, compotas, picles, brownies, fui pra feira livre, estudei, planejei, estruturei (isto tudo enquanto ainda trabalhava em TV), e por fim escolhi as pimentas para vender para os mercados e expandir meu pequeno negócio e crescer um pouquinho. Amamos os molhos nucleares, é algo que as pessoas não conhecem muito e eu quero meter o nariz onde não fui chamada. Quero vender molhos de qualidade sem aditivos e sem mimimi (outro tipo de mimimi, o pseudo-amoroso publicitário e sem qualidade que vemos por aí) para pessoas que se importam com comida de qualidade, e ponto. Bom, sobre as pimentas todo mundo sabe pq vivo compartilhando, mas no meio de tantas produções e pequenas vendas fiz um molho de mostarda, bem ingênuo e caseiro. Presenteamos um amigo e cá estou eu, muitos meses depois, ouvindo pedidos repetidamente pra fazer a mostarda de novo. Parecia que esta história iria continuar, mas acaba por aqui, para explicar uma outra coisa.
          Quis contar isto pois algumas pessoas dizem que sou afobada, ansiosa e tals, mas eu diria que sou mesmo é otimista, detalhista e atenciosa. Fiz rótulo para a mostarda, fiz rótulos para várias coisas que hoje não estou vendendo, mas tudo com um investimento sempre super pequeno, e por um único motivo: eu gosto de entregar uma coisa bonita e bem embalada, até e principalmente comida. Gosto de me sentir presenteada quando compro uma coisa que vale a pena, e quero que meus clientes e amigos sintam o mesmo quando receberem e consumirem algo que faço, não importa se é um teste. E mesmo que seja, gosto de fazer testes completos então, com toda a experiência valendo. Não sou uma pessoa consumista, sou pouquíssimo vaidosa com coisas materiais, mas quando quero comprar algo, quero que tenha alma, que tenha dedicação por quem quer que seja que tenha feito aquilo. É por isso que o trabalho artesanal é tão importante. Separando o joio do trigo, os que são a própria onda e os que apenas querem surfá-la, conseguimos encontrar coisas espetaculares.
          No fim tudo está interligado pra mim. Poderia escrever 10 laudas para explicar este molho de mostarda, pq há muito sentimento em mim que fica implícito nas coisas que produzo. Mas ficarei por aqui, com meias palavras que bastam. Escolhi compartilhar o que sinto na cozinha, produzindo os molhos de pimenta e o que mais vier. Já fotografei casamentos e escrevi poemas, o importante é desabafar de alguma forma, faço isso desde os 12 anos e me sinto feliz assim. E só faço enquanto me sinto bem fazendo, pq é o único motivo de fazer qualquer coisa, pra me expressar de alguma forma. Que se danem os rótulos, a capacidade de enxergar é do tamanho da própria compreensão e da própria limitação, então pra q se importar? E no fim das contas, as coisas são apenas o que são. Vamos descascar a laranja e chupá-la em vez de criar a teoria da laranja perfeita. Em cada estação e em cada colheita ela terá um gosto, e vc já não será a mesma pessoa quando a outra primavera chegar.
          Gosto de gastar meu tempo estudando e produzindo alguma coisa, seja lá o que for, mesmo que não faça muito sentido para quem está observando. E tudo sempre poderá melhorar, pq se eu posso ser melhor, meus produtos tb podem, temos sempre o que aprender. Não há limite para o conhecimento, isto é fascinante. Comida é um baita presente, cheio de amor. Não é qualquer um que é capaz de enxergar, mas isto não importa. Não dá pra agradar todo mundo, será que alguém ainda tenta fazer isto? Por isso as pimentas nucleares, por isso a mostarda ("La moutarde me monte au nez"). Nossas escolhas falam muito sobre nós, basta ter um pouco de sensibilidade para entender. Esta mostarda é para o Bruno, um amigo querido nosso. Obrigada por pedir e insistir, fico muito feliz. Agora é só aguardar 4 semanas para poder entregar e saborear, é o tempo paciente que ela precisa descansar para dar o melhor de si para nós. É, talvez eu não seja tão afobada assim...




Faça você mesmo! E nem pense em comparar o sabor destes molhos caseiros com a mostarda industrializada. Eles ficam muito mais fortes e devem ser usados para temperar, para servir um filé ou o que mais você desejar, mas com equilíbrio. Prove e vá adequando a receita ao seu paladar. Seguem algumas pra você começar:

Tipo ancienne:
1 e 1/2 xícara de  vinagre de vinho branco de qualidade
1/2x sementes de mostarda clara

1/2x sementes de mostarda preta
2 col sopa mostarda inglesa em pó (opcional)
2 col sopa mel
1 col sopa sal

suco de meio limão
Preparo: Coloque as sementes de mostarda dentro de um vidro com tampa e cubra com metade do vinagre. Misture, tampe e deixe em temperatura ambiente por três a cinco dias (quanto mais tempo, mais acentuado e forte o sabor ficará). Após estes dias, abra o pote e esmague parte das sementes com um pilão ou processe (rapidamente no modo pulsar) para dar um pouco de cremosidade. Junte os outros ingredientes, misture bem e conserve na geladeira. Consuma em até 30 dias. 


Tipo Dijon:
1/2x xícara de  vinagre de vinho branco de qualidade
1/2x vinho branco
1x sementes de mostarda clara
2col sopa mel
1 col sopa sal
suco de meio limão

Preparo: Processe os grãos de mostarda em um moedor de grãos, depois bata este pó com os demais ingredientes no liquidificador até ficar cremoso. Acrescente o líquido aos poucos para não deixar diluído demais. Deixe de três a cinco dias fora da geladeira, abrindo diariamente e fechando para deixar sair os gazes da fermentação. Conserve na geladeira e consuma em até 30 dias. 

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