A DEDICATÓRIA DO LIVRO QUE AINDA NÃO EXISTIA

     Estou ansiosíssima aguardando a impressão da primeira e única tiragem de exemplares do meu livro "La Daher na cozinha: comida caseira para inspirar". Preciso voltar um pouco no tempo para explicar pra vocês um dos maiores micos da minha vida (senão o maior) e mostrar como cheguei aqui hoje, quase nove meses depois e com uma olheira pra nenhum panda colocar defeito.
     Em setembro do ano passado resolvi diagramar o livro e na mesma época comecei a vender quadros para decoração com as fotos que produzia para as redes sociais da La Daher. Imediatamente tive a brilhante ideia de escrever para um arquiteto famoso falando sobre meu trabalho, porque ideias não me faltam e sempre acho que são ótimas quando aparecem na minha cabeça. Não vou citar o nome pois seria muito indelicado e desnecessário. Na época eu disse que adoraria ver alguns quadros enfeitando algum projeto dele, seria realmente maravilhoso levar um pouco do amor que tenho dedicado a este projeto para a casa de outras pessoas. Comentei sobre o livro e ele respondeu dizendo que achou as fotos muito bonitas e que adoraria receber uma cópia do livro. Eu fiquei SUPEREMPOLGADA e feliz, ele foi muito simpático e o que era apenas um projeto em andamento virou uma missão! Eu teria que terminar o livro para poder enviar a ele e apressei totalmente o processo, sem me dar conta da importância daquilo tudo. 
     Como já fotografei casamentos e ensaios de família por alguns anos, estava diagramando o livro como se fosse um álbum fotográfico, ele seria como um portfolio para falar um pouco da história da La Daher e sobre o conteúdo que produzo para as redes sociais. Diagramei rapidamente, coloquei os títulos e mandei imprimir em São Paulo no mesmo local onde imprimia os álbuns de noivas. A conclusão é que paguei R$930,00 (sim, novecentos e trinta reais!) por dois fotolivros! Não revisei o texto, corri mais que minhas pernas, gastei dinheiro que não tinha (não tinha mesmo!) e imprimi. Já era novembro de 2016 e eu queria correr contra o tempo para enviar o livro antes do ano terminar. Cheguei até a divulgar nas redes sociais o lançamento do livro, como sou louca. Encomendei três quadros com fotos e gastei mais uns quinhentos reais para poder enviar os quadros, o livro e meu molho de pimenta pra ele. Nossa, eu estava muito feliz, o que poderia dar errado? Um livro pronto e lindo, seria maravilhoso enviar tudo que sou transformada em objetos para alguém! Eu tinha certeza de que ele entenderia todo o amor que sinto e dedico ao meu trabalho, mas eu deveria ter esperado. 
     Hoje, oito meses depois e com muitas noites sem dormir rediagramando o livro, vejo o tamanho da burrada que fiz e o mico que paguei por ter me precipitado. Mas aceito e entendo minha euforia por realizar este feito tão precioso que é lançar um livro. Muitas emoções depois e muito tempo depois eu consigo entender. Não fiquei eufórica por ele ser famoso, de jeito algum. Trabalhei por catorze anos no Projac (TV Globo) vendo os atores mais famosos do Brasil diariamente, tenho o maior respeito pela fama mas nenhum deslumbramento. Eu estava mesmo era eufórica para mandar, admiro muito o trabalho dele e fiquei vislumbrando como seria um quadro meu pendurado na parede de algum cliente dele com o livro contendo a mesma foto, eu achei que seria realmente o máximo! Mas não foi. Enviei o livro pra São Paulo, ele recebeu, e pronto. Zéfini. Imagino o quanto ele ficou chocado com os erros de português, porque foi como eu fiquei alguns meses depois quando fui revisar, ler o "novo" acordo ortográfico e dormir agarrada com a gramática do Sr. Bechara. Eu simplesmente não revisei o primeiro livro, que horror! Escrevi coco com circunflexo! Sim, côco, que depois descobri nunca ter existido e nenhum acordo ortográfico novo ou antigo me salvaria de uma como essa. Afff... que mancada! Melhor se tivesse escrito cocô, que pelo menos tem acento! Logo eu, que respeito tanto a nossa língua, que já fui professora universitária (não de língua portuguesa, mas e daí?), pagar um mico desses logo com alguém famoso. Por que dar uma cagadinha se eu posso jogar merda no ventilador? Desculpe-me pelo palavrão, o efeito da passiflora deve estar passando...
     Você acha que o mico termina aí? Gostaria que sim, mas pra completar com chave de ouro eu fiz a dedicatória para o arquiteto-celebridade na folha de guarda do livro! Sabe aquela folha em branco que segura o miolo do livro? Pois então, não é ali que se assina um livro e foi justamente onde assinei! A primeira assinatura é um momento quase desesperador, toda a inspiração sai de férias e a gente quer sumir. Ainda estou neste momento desesperador e acho que ele nunca vai passar, não faço ideia do que vou escrever para as pessoas, principalmente se for pessoalmente. Fazer um livro é um processo solitário que dura muitos meses e até anos. Criar, estudar, produzir, realizar. No meu caso tudo isto é feito no maior silêncio, não envolve cafés no fim de tarde fora de casa nem barulho da rua, muito menos pessoas falando e querendo me abraçar. Isto tem me deixado um pouco em pânico, confesso. Mas estou tentando me acostumar com a ideia de marcar um encontro em uma cafeteria escura para assinar os livros das pessoas mais próximas, sei que seria muito feio querer me esconder agora. Hoje acho graça de ter assinado o livro do arquitero famoso no local errado, o que posso fazer? O que está feito, está feito. É melhor feito que perfeito, não? Só me resta enviar um novo livro rapidamente pra ele assim que ficar pronto, pedindo mil desculpas e torcendo para que desta vez esteja tudo certo, inclusive o local da assinatura. Esta parte da saga do livro termina aí. Bom, pelo menos o início da história termina aí, o que será daqui pra frente ninguém poderá dizer.
     Depois de toda a euforia e com este mico pra levar pra vida, liguei para a gráfica de São Paulo onde imprimi o primeiro livro para ver se conseguiria imprimir uma tiragem maior com um preço mais bacana. Eles foram irredutíveis e a partir daí o cenário mudou completamente. Eu teria que rediagramar todo o livro em outro software e entrar em contato com outras gráficas que pudessem fazer o trabalho de impressão pra mim, e depois de me dar conta de que começaria tudo do zero, um novo capítulo começou, mais bonito e profundo por sinal. Um capítulo que dura até agora, que me mostrou toda a beleza e emoção que um livro pode nos proporcionar. Apesar de todas as dificuldades, tem sido uma fase muito feliz, de reafirmar meus valores, de ter algumas certezas mas permanecer com dúvidas infinitas. A edição do livro tomou uma outra dimensão, ele continuou sendo um livro de fotografias mas agora ele gritava, ele queria falar de amor. Ele queria falar de quem eu sou, da minha casa e do meu casamento, ele queria mostrar minha alma... Deixei algumas amizades irem com o vento, as que não entenderam, não participaram, não respeitaram um momento tão árduo e lindo como este. Sofro até hoje com isto, mas não posso negligenciar o que me tornei, preciso respeitar a mim mesma antes de tudo, é um compromisso que tenho comigo. Quanto mais envelheço, mais verdades inteiras quero perto de mim: amor de verdade, consciência de verdade, pessoas de verdade, com todos os seus defeitos e imperfeições, mas que não queiram passar por cima das outras em uma conversa onde todos deveriam se abraçar. O que não for amor deixo ir, porque nunca deveria ter ficado.
     Iniciei a pré-venda do livro hoje, 24 de julho de 2017. Que alegria! Os primeiros exemplares devem chegar em lotes de vinte unidades na segunda quinzena de agosto e os primeiros compradores receberão vários mimos que preparei. Meu coração está a mil, mas com a sensação de que este é um projeto pronto, mesmo que imperfeito, mesmo que incompleto. Ele é e foi tudo de melhor que pude doar no último ano, o esgotamento e o afloramento das mais profundas emoções. É tudo que sou até hoje transformado em comida, em simplicidade, em fotografia das comidas caseiras que preparo para mim e para o meu marido com muito amor.
     Fiz tudo absolutamente sozinha, com o Thiago ao meu lado me apoiando e participando de tudo, sempre acreditando nisto tudo, até mais do que eu. Cozinhei, fotografei, produzi, refotografei, diagramei, rediagramei, editei, revisei, fiz tudo. A alegria e a euforia chegam junto com um medo danado de ter deixado escapulir alguma coisa. Não consegui imprimir como queria, seria mais de trinta mil reais e cada exemplar custaria R$300 só com o custo da impressão (queria impressão offset). Estou imprimindo em uma gráfica e conseguimos ajustar a impressão para algo que gostei e achei razoável, em papel couché e impressão digital. Agora é só respirar calmamente e aguardar sua chegada, porque foi (e está sendo) realmente um parto. Nove meses depois e olheiras que contam todas as noites que fiquei sem dormir debruçada no computador. Nenhuma certeza, nenhuma sensação de quietude. Ainda tenho tanto por falar e estou aqui tentando resumir esta história, me perdendo neste texto que já perdi as contas de quantas linhas e erros tem. Meu livro pouco fala com palavras, eu preferi assim. Nao tem receita escrita  porque eu quis deixar a vida ensinar, o amor falar mais alto. Não é livro pra ensinar, é livro pra inspirar, e como não sou poeta, achei melhor me calar. Prefiro mesmo é sentir, mesmo sendo tão faladeira. Prefiro amar, cozinhar, fotografar, calar. Acho que muitos livros ainda virão, sabe-se lá se serão de comida ou não. Só guardo a certeza de que serão de amor, destas entrelinhas e destas verdades que muitas vezes faltam no meu dia a dia. Desta leveza que eu queria pra minha vida... Será de amor, com certeza será de amor... Ele estará se manifestando em algum lugar, de alguma forma, e nem sei se será em livro, mas será de ainda mais amor. Ele continua vivo aqui dentro de mim querendo sempre dizer alguma coisa. Espero que todos que levarem um pouquinho deste meu coração pra casa se encantem como eu me encanto com a cozinha e tudo que ela tem me proporcionado até hoje. Vou deixar os micos e os acentos pra lá, eu quero é amar e cozinhar! ♥

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